segunda-feira, julho 31, 2006

Casados de Fresco - ou - Gente demasiado fresca, demasiado casada

Confesso que o tema que me disponho hoje a abordar, há muito que cozinha aqui no meu sarcástico cerebrozinho...
Numa era em que o casamento e a benção da família não passam de celebrações meramente simbólicas para uma união, num século em que os trâmites para duas pessoas (seja de sexo forem) se amarem é amarem-se, pergunto-me o que será este maravilhoso novo fenómeno, que surge, subrepticiamente, no seio da maioria dos casais jovens de hoje e parece querer instituir-se enquanto tradição. Falo do denominado "casamento", que na realidade é exactamente a ausencia dele.
Talvez esteja a ser algo paradoxal... Deixem-me explicar melhor. Exemplifiquemos:
Um jovem casal (qualquer idade entre os 14 e os 20) que, não estando, naturalemente, casados, se comporta como se já o fossem, e não há pouco tempo.
Como copreender dois jovens, que ainda florescendo para a vida, se castrem tanto quanto um casal de avózinhos? Como entender comportamentos de casal cansado da vida e um do outro, vindo de rapazes e raparigas que ainda nem terminaram o liceu?
Como podemos nós, sociedade generalizada, condenar gravidezes durante a adolescência e premiscuidade juvenil, quando andam por aí tantos desses mesmos jovens de que tanto falam, a anular-se e a anularem os seus pares ao comportarem-se (aí sim) como gente crescida?
Custa-me tanto ver pessoas tão amarradas umas às outras, que deixam de ser indivíduos, para ser um par, apenas um par, nada mais que isso... Passam a ser: "a-Rita-e-o-Francisco" (nomes fictícios, lógico), em vez de "A Rita" e "O Francisco". Numa frase seria: "Vêm a Rita e o Francisco", em vez de "Vem a Rita, vem o Francisco, etc..".
São catalogados e empurrados ainda mais para este género de relação sufocante que parece ser corroborada por todos. E o pior, é que estes pobres miúdos da minha geração não parecem estar de todo contrariados com a situação, antes parecem querer afunadr-se ainda mais, no que para eles parece, mais do que romântico, socialmente admissível. Aliás, parecem achar que apenas assim a sua relação será admitida e respeitada perante os olhares críticos de todos.
Sintomas típicos deste género de relacionamento são: o serem vistos sempre (e quero dizer SEMPRE) juntos e não irem a lado algum sem a companhia do outro; telefonemas de controlo de duas em duas horas, caso se encontrem separados; jantares de reunião das duas famílias de quatro em quatro meses (ou menos); pedir a opinião do "conjugue" para toda e qualquer ocasião; entre tantos outros...
É uma pena, porque se não casam mais cedo ou mais tarde pelos caminhos mais usuais, acabam por se desgastar num relacionamento com o qual não estão por completo de acordo e magoam-se asério, numa separação, qual divórcio letigioso. Se casam mesmo ou têm muita sorte e aprendem a viver um dia de cada vez, e a reapaixonarem-se todos os dias, ou acabam por ser um casal de velhos relhos aos 30 anos.
É que, tentemos compreender, qualquer pessoa que se envolva a este ponto com outra quer, mais cedo ou mais tarde, casar de facto, no papel, para ter comprovado, que aquilo que construiu, aquilo em que se embalou a si mesmo, ao seu par, às famílias e ao resto da sociedade é de facto algo palpável. São ambições demasiado altas para jovens menores de idade, são jogos demasiado emotivos, são almas demasiado jovens.
Estarei a ser preconceituosa? Ou será que o Mundo não vê o compromisso fatal em que estes jovens se envolvem?
De resto, por vezes, parece-me haver uma predisposição maioritariamente feminina para este género de relacionamento (não quero dizer que não haja muitos homens com os mesmos padrões morais) e que, por vezes também, os seus companheiros não se vêm no mesmo tipo de namoro. Ou seja, temos a mulherzinha, mas não temos os estremoso esposo. O que normalmente iguala a namoradas obcecadas com um relacionamento que não funciona como projectam ou namorados descuidados, pouco atenciosos ou, iria mesmo ao ponto de dizer, infiéis.
Enfim... Pergunto-me se isto será um síndrome meramente português, ou se se alastrará internacionalmente.
O que será feito das filosofias de amor livre dos anos sessenta? Porque apoiam tantos pais este género de compromisso?
Estarei a apelar à premisciudade? Que se lixe! Sou pelo amor livre, pelo desbravamento dos tabus e pela dizimação de barreiras emocionais.
Hippie, algo näife, mas muito autêntico!
Fosse o Mundo todo assim...

terça-feira, julho 18, 2006

A vida é para ser jogada a três: Nós, o Mundo e a Adversidade

A vida é um jogo...
A vida é tal e qual um jogo de xadrez.
Jogo xadrez desde pequena, admito, não sou uma grande jogadora, mas ganho ocasionalemente. Aprendi desde logo, que o xadrez é o maior jogo de estratégia existente. Há que estar sempre atento, antever as jogadas do nosso adversário, manter a cabeça fria e, tal como o meu pai sempre disse, saber sacrificar as peças certas, por uma jogada maior.
Mais do que no jogo, aplico estas regras à vida. Tal como o xadrez, a vida é um jogo de paixão. Há que amar e calcular jogadas. Há sempre o risco de perder a qualquer instante, mas é isso que torna tudo tão apaixonante. É um jogo que tem graça jogar, tanto num ritmo acelerado, como em ponderação constante. E quem se estiver agora a perguntar a que me refiro - se ao xadrez, se à vida - fique sabendo, que para mim é tudo o mesmo, como se os anos se contassem por jogadas num grande tabuleiro a preto e branco.
Acabei de fazer um xeque-mate e ainda estou meia estupidificada. Ganhei um jogo que pensava estar a jogar contra mim mesma. Estava pronta a desistir... Numa reviravolta emocional ganhei o jogo - e como é bom vencer!
Infelizmente nunca temos oportunidade de saber o que pensam os vencidos. Mas que importa? Até há momentos era eu que parecia não poder dar satisfações.
Como é triste, quase cruel, a realidade...
Ficam aqui estas ideias, meio à laia de pensamentos, questões para ponderar...
Eu tenho que iniciar um novo jogo, não sabendo ainda quem é o meu novo adversário. Nem o seu tamanho, peso e magnanimidade.

“Eu não desejava a vitória, mas a luta”
Strindberg, August

quinta-feira, julho 06, 2006

Pré- e Pós-Derrota, os síndromes de uma sociedade sedenta de heróis

Eu pensava, visto já ter comentado o Mundial, o tema não se voltar a repetir. Enganei-me. Desde já e antes de começar a desancar sobre este meu povo português, queria dizer apenas, que também lamento a derrota de ontem, sei que jogamos melhor e que mereciamos estar na final. Agora só não me peçam para chorar e pedir baixa, porque isso já é algo que eu, ao contrário de muita gente que por aí vejo, não consigo fazer. Voltaremos a este ponto mais tarde.
Ora bem... Recuemos uns dias e analisemos a situação que se instalara.
Tinhamos chegado às meias finais. Facto único. Tinhamos sido maravilhosos até aí. O povo vibrava de entusiasmo e espírito patriótico, a televisão bradava anuncios de incentivo à Selecção Nacional, para toda esta gente o Mundo parecia ter posto os olhos em nós, pequeno país no caudal da Europa, e esperar dos Lusitanos grandes feitos. Como já é da praxe bandeiras voavam nas janelas e estendais, bandeirolas agitavam-se nos tejadilhos dos carros, populares moviam-se dentro de t-shirts, tops e afins com a bandeira ou as quinas estampadas ao peito. Gostava de saber o que Luís de Camões diria, se visse toda esta animação e espírito nacionalista. Provavelmente em vez de escrever os Lusíadas, compunha o rap para um spot da Galp.
Chega então quarta-feira, dia 5 de Julho. O dia D das hostes portuguêsas. A espectativa pairava no ar. Contudo, a minha revolta provém, não de um jogo fracassado, mas de cerca de uma hora antes do começo da partida, quando me deparo com algo, que me parecia quase impossível. Ia eu muito bem comprar provisões para o jantar, enfim, ia eu ao supermercado - eram isto, cerca das 19.30h - quando tomo consciencia, de que não poderei fazer essas mesmas compras, porque o dito cujo supermercado - e digo aqui que era o Pingo Doce, em jeito de protesto - encerrava às 19.30h devido ao jogo que se seguia! Como é óbvio nesta terra, as caixas já tinham fechado à uns bons cinco minutos e eu tive que me juntar a um grupo de moradores que se aglomerara à porta, para protestar contra tais despautérios. Fechar um estabelecimento porque a Selecção Nacional de Futebol joga nas meias-finais de um Mundial?! Então e a população que não dá um centimo furado por futebol? Este povo é de loucos! Mas, calma, as coisas não ficaram por aqui. Ao voltar para casa, qual não é o meu espanto, quando reparo, que várias são as lojas e cafés, que, estando encerrados, tinham colados à porta folhetos informacionais, para aviso de encerramento a horas fora do normal, devido ao jogo.
Como não chamar a este país terceiro-mundista? Como?
E depois, lá vem... despois do jogo era só vê-los. Todos cabis-baixos, tristonhos, como se tivesse morrido alguém. Hoje andam todos por aí, com cara de ressaca (e uma ressaca daquelas de se ter bebido para esqecer), com a fronha baixa. Outros gritam vernáculos sem sentido, rogam pragas à Selecção gaulesa. E tudo isto provocado por uma bola numa rede...
Como vêm, aqui tentei resumir o antes e o depois desta derrota. Continuo a achar que jogamos bem e continuo a pensar, que aqueles que esta gente venera tanto, aqueles, que ao contrário das políticas restructurais, é que vão salvar a Nação, ganham mais num ano, do que muita gente ganha numa vida inteira. É triste pensar, que nos dias de hoje ainda se venera uma espécie de aristocracia e ainda é mais triste constatar, que essa mesma aristocracia, para além de (na sua maioria) não possuir o ensino básico completo, não tem também Q.I.'s superiores a 80.
Só me resta dizer: portuguesisses...

segunda-feira, julho 03, 2006

Estou de volta e reescrevendo a divisa: "Eu ao volante - Perigo constante"!

Voltei! E, afinal, não estive ausente durante tanto tempo assim... Mas - que horror! - tanta coisa se passou desde a minha última entrada!
Vocês conhecem aquela horrível sensação de aperto no estômago misturada com irritação profunda com qualquer Ser que faça o mínimo barulho ao vosso lado? Tipo, ansiedade e falta de paciência ao mesmo tempo? Enfim... é o que têm sido os meus últimos dias, sempre pelas 15h, devido às minhas, recentemente iniciadas aulas de condução (só espero que o meu instrutor nunca venha a lêr isto). O senhor até que é uma simpatia, e tudo muito bem, mas agora imaginem: alguém que nunca guiou na vida, mas que sempre o desejou fazer; alguém, que adora a sensação de estar a controlar uma máquina em movimento, mas infelizmente se apercebe, que ainda não consegue fazer tudo na perfeição; alguém que se sente inteiramente impotente ao ver que os seus mais sentidos esforços não dão exactamente naquilo que se esperava; principalmente, alguém que denota ter como professor o homem mais picuinhas à face da terra! A coisa torna-se complicada! Ou é porque não engrenei bem a primeira (- Atenção Joana! A mão tem que ser em concha, não em cima da alavanca!), ou é porque já estava a por a mão na caixa de velocidades antes de arrancar, ou é por não ter olhado mais para a direita, ou é por não ter carregado mais na embraiagem... enfim... eu até entendo, é professor, está ali para ensinar e corrigir, mas mete-me uns nervos, quando por exemplo, põe a mão no volante e eu SEI que tenho tudo sobre controlo! Anda sempre a dizer que estou muito tensa e que tenho de fazer pouca força no volante e isto e etcetera e mais... Pareço altamente mimada ao revolatar-me assim? Muito provavelmente... De qualquer maneira acho que o que me irrita mesmo é o facto de ele ser tão condescendente! É que nem é severo nem nada, simplesmente paternalista. Do género:
- Vamos lá... tem que olhar para ambos os lados... vá... muito bem... agora com calma... isso...
E, claro, o facto de eu sempre ter querido conduzir e não ser um talento natural, tal como desejei, também me é algo frustrante.
Portanto já sabem, nos próximos tempos não atravessem fora das passadeiras, não se aproximem das bermas, tomem cuidado com os carros de aprendizagem, porque em qualquer um deles pode se esconder o maior perigo para a humanidade, uma provável assassina em série, verdadeira ameaça pública:
EU!